the least apt
1 min readJan 11, 2023

--

A Lanterna Dos Desafinados

A linha afina entre amor e obsessão quando se engrossa o vazio da solidão. Nossos estômagos ecoam e puxam. Tal qual os redemoinhos, você lembra? Nas poças de chuva do seu jardim. Você pulava e eu sempre caia. E acho que você sabia. Nunca demonstrando em grandes atos, em grandes gastos. Daqueles que desgastam a mente e deixam a gente estufada e estirada na grama molhada. Passei a comer migalhas como se fossem banquetes. É a crise. Mas acho que você sabia, como o contraste revela a falta daquilo tudo que não se vê, desamortece o sentimento e a memória daquilo que tentamos esquecer. Eu acho que você sabia que seríamos engolidos. Deixando pistas em conversas casuais. Sugerindo desventuras, compondo desarranjos e me guiando por seus planos. As vezes me convencia de que você não tinha ideia. As vezes parecia uma criança perdida. E me sentia confortável, nesse controle de faz de conta, no meu chapéu de pirata e farda roubada. Você nos guiou pela noite escura, pelo dourado do pôr do sol, pela tempestade e pelas águas calmas. Sem nunca tirar a praia de vista. Nunca nos afastamos do porto. E eu acho que você nunca soube. O tempo todo, minha lanterna era você.

--

--